PRIMÁRIAS AMERICANAS ARRANCAM EM CLIMA DE FRAUDE
2020-02-07
Martha Ladesic, Washington; Exclusivo O Lado Oculto
Os Estados Unidos praticam em casa aquilo de que costumam acusar outros países, chegando a promover golpes de Estado como punição: fraudes eleitorais. Ainda agora começaram as eleições primárias do Partido Democrático e já as evidências de viciação de resultados saltam aos olhos de todos. No Estado de Iowa, o mecanismo eleitoral escolhido pela campanha do candidato que se auto-declarou “vencedor” sofreu “erros de codificação”, muito provavelmente em desfavor do “socialista” Bernie Sanders. O mesmo Sanders que, em 2016, foi vítima da viciação eleitoral que permitiu a Hillary Clinton disputar as presidenciais contra Trump. Investigações feitas, vários membros da equipa de Clinton são agora quadros da empresa que montou a aplicação eleitoral escolhida no Iowa. E Sanders é o inimigo de estimação da direcção do Partido Democrático. São assim os métodos políticos seguidos por quem emite juízos sobre supostas “fraudes eleitorais” na Bolívia ou na Venezuela, por exemplo.
Muitos cidadãos norte-americanos têm uma sensação de déja vu depois do caucus (assembleias eleitorais) do Partido Democrático no Estado de Iowa, aparentemente transformado numa reedição da actuação corrupta do Comité Nacional Democrático (CND, a direcção do Partido Democrático) durante a campanha de 2016. Desta vez parece que o candidato Pete Buttigieg ocupa o lugar de Hillary Clinton.
Alguns dias depois do caucus o fiasco prossegue no Estado de Iowa. Na segunda-feira, dia 3 de Fevereiro, a aplicação escolhida pelo Partido Democrático para a contagem dos votos entrou em colapso deixando todas as facções partidárias revoltadas com a incompetência manifestada e a confusão que gerou. “Patrocinamos golpes de Estado na América Latina por alegadas fraudes eleitorais que depois não conseguimos provar enquanto situações irregulares e absurdas como estas se sucedem na América”, notou um eleitor tentando arranjar paciência para aguardar pela solução do imbróglio.
Outros votantes consideraram muito “apropriado” o nome da empresa que montou a aplicação, “Shadow Inc. (sombra), escolhida pela direcção do partido. “Nada mais sombrio para a democracia do que isto a que estamos a assistir”, comentou uma eleitora.
Mas a situação iria ter muitos outros numerosos e interessantes desenvolvimentos.
Mesmo sem relatos, números e apuramentos feitos por delegados às votações, o candidato e presidente do município de South Bend, Pete Buttigieg, declarou a vitória no caucus. Por seu lado, a equipa eleitoral do candidato Bernie Sanders – o candidato “socialista” encarado como inimigo pela direcção do Partido Democrático – calculava que este senador do Estado de Vermont deveria ter uma vantagem de cinco pontos percentuais sobre Buttigieg na votação popular. Dois dias depois das votações, os números oficiais davam os dois candidatos empatados, com dez delegados eleitos cada um e ambos com mais de 25% dos votos.
Na sexta-feira, dia 7, isto é cinco dias depois da votação, os resultados divulgados pelo Partido Democrático não permitiam ainda estabelecer um vencedor porque faltam apuramentos de assembleias de voto e a diferença entre os dois primeiros candidatos é da ordem dos 0,09 pontos percentuais. Tom Perez, presidente do Comité Democrático, ordenou então ao braço partidário estadual do Iowa para proceder a uma verificação pormenorizada dos resultados que têm vindo a ser divulgados.
Depois de Buttigieg e Sanders, o outro candidato a obter delegados é a senadora do Massachusets, Elizabeth Warren, com quatro. O grande perdedor parece ser o candidato “oficial” do Comité Democrático, o ex-vice-presidente Joe Biden, a quem são atribuídos cerca de 15% dos votos e sem qualquer delegado eleito.
“Erro de codificação”?
O presidente do Partido Democrático do Iowa pediu desculpas aos eleitores registados e que frequentaram cerca de 1600 locais de voto. Segundo diz, terá havido “um erro de codificação” na aplicação.
Aprofundando a situação verifica-se que os problemas são mais graves do que a “codificação”. Existem laços estreitos entre o candidato Buttiglieg e os criadores da ineficaz aplicação. Os registos demonstram que a empresa Shadow e os criadores da aplicação foram financiados pela campanha de Buttigieg com pelo menos 42500 dólares. E que a presidente da empresa, Tara McGowan, é casada com um destacado estratego da campanha do presidente do município de South Bend e comemorou de maneira exuberante a notícia de que este decidira apresentar-se na corrida presidencial. O aspecto mais perturbador destas ligações, porém, é o facto de vários quadros dirigentes da Shadow, produtora da aplicação, designadamente Gerard Niemira, James Hickey, Krista Davies e o próprio gerente de produto, Ahna Rao, terem sido colaboradores estreitos da campanha de Hillary Clinton em 2016.
Nesse ano, o Comité Nacional Democrático viciou as eleições primárias em favor de Hillary Clinton impedindo que Bernie Sanders se tornasse o candidato para disputar as eleições contra Trump. O CND invocou em tribunal a Primeira Emenda constitucional para alegar que tinha o direito de fazer pesar o prato da balança para o lado de Clinton. E que conceitos como “imparcial” não poderiam ser interpretados por um tribunal.
O Comité Nacional Democrático criou para estas eleições uma “equipa contra a desinformação” para intervir nas redes sociais alegadamente para impedir “notícias falsas”. Qualquer membro de uma rede social que use a palavra fraude ou suas derivadas associadas a actividades do partido é banido pelo software.
Entre os membros do partido é frequente ouvir-se que “alguns democratas preferem ter Trump outra vez na presidência do que ver Bernie Sanders na Casa Branca”.
O actor de comédia Lee Camp, um eleitor do partido, acredita que a aplicação utilizada no caucus “foi projectada para falhar”. Em sua opinião, “a campanha de Buttigieg, a antiga máquina eleitoral de Hillary Clinton e o Comité Nacional Democrático estão a trabalhar em conjunto para minar a campanha de Bernie Sanders de um milhão de diferentes maneiras, mas o que fizeram em Iowa está para lá do óbvio”.
Mike Figueredo, analista do Humanist Report, afirma que os eleitores não irão apoiar os democráticos se não acreditarem nos processos que estes usam. “É por isso que os democráticos perdem”, diz. “É por isso que Donald Trump tem uma possibilidade muito boa de ser reeleito porque quando os eleitores ficam em casa os republicanos vencem. Ora as primárias ainda agora começaram – estas foram as primeiras de 49 – e o Partido Democrático já fez o suficiente para retirar legitimidade aos seus processos. Precisamos da ONU ou de alguma entidade internacional para vir supervisionar as nossas eleições: ninguém acredita nos processos do Partido Democrático”.
Praticamente na mesma ocasião das vicissitudes eleitorais no Iowa, Donald Trump, um republicano, fez o seu discurso “sobre o estado da nação”. Na ocasião, quem fez convergir os aplausos dos membros do Congresso foi o convidado especial Juan Guaidó, apresentado como “presidente da Venezuela” sem ter concorrido a quaisquer eleições e para quem Washington criou um parlamento especial por ter sido derrotado na votação para presidente da Assembleia Nacional de Caracas.