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BOLIVIANOS ESCOLHEM ENTRE A DIGNIDADE E O PASSADO

O presidente Evo Morales é o favorito nas eleições bolivianas

2019-10-18

Crescimento económico de 5% ao ano, 700 mil novos empregos, aumento galopante do consumo e cortes drásticos na pobreza e miséria, inflação mínima, além do reconhecimento de direitos aos povos indígenas: em 13 anos, as presidências de Evo Morales conseguiram o que a Bolívia não teve em 500 anos. Agora é hora do povo escolher entre o reforço dessa nova dignidade e o regresso a um passado de trevas.

Eric Nepomuceno*, Jornalistas pela Democracia/O Lado Oculto

No domingo, dia 20, mais de seis milhões de eleitores bolivianos vão às urnas para eleger 130 deputados e 36 senadores, além do presidente da República. O índio aimará Evo Morales, em vésperas de fazer 60 anos, candidata-se a mais quatro anos na presidência, que desempenha desde 2006.  

Quais as possibilidades de isso acontecer? Ora, se as sondagens estiverem certas, são muito elevadas. A média dos últimos resultados revela que Morales conta com 43% dos votos contra 32% do seu mais directo competidor, o ex-presidente Carlos Mesa. Pela legislação boliviana, ganha à primeira volta quem tiver metade mais um dos votos. Ou então 40% dos votos, desde que com uma diferença de dez pontos sobre o segundo.

Embora nos nossos países quase nada seja impossível, convém lembrar outros dados para reiterar o favoritismo de Evo Morales. Sondagens recentes mostram que a sua imagem, passados 13 anos na presidência, conta com a aprovação de 54% dos bolivianos. E que 72% têm avaliação positiva do seu governo. A maior parte dos analistas consideram que Morales ganha na primeira volta. E que, se não conseguir, terá uma segunda volta apertada – mas ainda assim triunfando.

Quando Morales chegou à presidência pela primeira vez, a Venezuela tinha Hugo Chávez, o Brasil tinha Lula, na Argentina estava Nestor Kirchner, Tabaré Vázquez ainda não se tinha distanciado tanto da proposta de esquerda no Uruguai. E foi naquele mesmo ano de 2006 que Michelle Bachelet assumiu a presidência chilena.

O quadro de hoje é bem diferente. Nicolás Maduro está extremamente desgastado numa Venezuela sufocada; e, tirando a extirpação de Mauricio Macri na Argentina, tudo o resto vai da direita neoliberal do chileno Sebastián Piñera à tresloucada do colombiano Iván Duque.  

O paralelo mais próximo é o distante e um tanto confuso México de Andrés Manoel Lopes Obrador; e não se sabe ao certo o que sairá das urnas uruguaias no mesmo domingo 27 em que Macri será catapultado, deixando para trás um país em ruínas.  

E tudo isto, claro, para não mencionar a aberração psicopata que responde pelo nome de Jair Bolsonaro.

Crescimento anual de 5%

Ganhando, Evo Morales e seu eterno vice Álvaro García Linera enfrentarão dificuldades, causadas principalmente pelo défice do comércio externo, que anualmente vem rondando a casa dos dois mil milhões de dólares.  

A elevada dependência das exportações de gás natural, principalmente para o Brasil e a Argentina, além dos minérios, é um flanco frágil na economia boliviana. Os dois grandes importadores enfrentam dificuldades sérias nas suas economias.  

A Bolívia, por sua vez, desde a chegada de Morales vive uma etapa sem precedentes. Nestes 13 anos a Bolívia deixou a companhia de países como o Haiti e saiu do mapa das nações mais miseráveis desta nossa conturbada América Latina.

Aliás, aconteceu exatamente o contrário. O crescimento médio da economia do país mantém-se em redor de 4,9% anuais. Quando Morales assumiu a presidência, 38% dos bolivianos viviam na miséria. E 60% na pobreza. Hoje, os que vivem na miséria são 15% dos bolivianos. E na pobreza, 34%.

Pela primeira vez na história boliviana os povos indígenas foram resgatados do abandono. E pela primeira vez foram-lhes reconhecidos e fortalecidos direitos básicos e essenciais, a começar pela dignidade que lhes fora negada ao longo dos tempos.  

Enfim, o que Morales fez na Bolívia ao longo dos últimos 13 anos ninguém tinha feito ao longo dos últimos cinco séculos. Mais que tirar da pobreza e da miséria milhões de bolivianos, deu-lhes dignidade.  

Na economia, sobram exemplos: que vão do facto elementar de que todos os bolivianos (bem, 99% deles, segundo dados oficiais comprovados) mantêm suas poupanças em pesos, e não dólares como era tradição, até orientar créditos e investimentos, tanto privados como públicos, para actividades produtivas, com ênfase na construção de habitações populares. Também houve fortes investimentos em infraestruturas; e empresas estratégicas foram nacionalizadas (e com um pormenor insólito: os seus antigos proprietários foram convidados a tornar-se sócios, a começar pela petroleira espanhola Repsol...); em suma, toda uma inversão radical das receitas neoliberais que afundam países com eficácia tremenda através do mapa latino-americano.  

Com Morales foram criados quase 700 mil postos de trabalho, as reservas em divisas subiram 45%, o consumo aumentou 125% e os investimentos equivalem hoje a 30% do PIB, tudo isto com uma inflação rondando a marca média anual de 1,5%.

E é justamente o resultado da economia o principal motor do eleitorado que vai às urnas no domingo dia 20. Aliás, como acontecerá também no domingo seguinte na Argentina.

A diferença é que uma destas economias está forte, sólida e distribui benefícios aos abandonados de sempre. E que a outra está arruinada e só distribui benefícios aos privilegiados de sempre.

Esse o nó da diferença entre o boliviano Morales e o argentino Macri. Além da decência, claro.

*Jornalista e escritor boliviano


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