“BOMBEIROS” POR UM DIA, INCENDIÁRIOS POR ROTINA
2019-09-06
Os senhores do mundo, reunidos em formato G7, assumiram dramaticamente uma até agora desconhecida vocação de “bombeiros” perante a catástrofe da Amazónia. Sentindo os holofotes mediáticos bem focados sobre as suas pessoas, os senhores e senhoras mais conhecidos pelos métodos de procurar a paz e a democracia através da guerra prometeram disponibilizar mundos e fundos para travar a catástrofe. Acabada a cimeira, voltaram ao mesmo de sempre, isto é, a gerir o regime e a sociedade globalista onde avultam – como donos dos interesses que interessam – os verdadeiros incendiários da Amazónia e de todo o planeta. E os incêndios continuam.
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Perante a propagação dos incêndios na Amazónia, a recente cimeira do G7 alterou a sua agenda para “enfrentar a urgência”.
Os sete – França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Japão, Canadá e Estados Unidos – mais a União Europeia, representaram o papel de bombeiros planetários. O presidente Macron, fardado de bombeiro-em-chefe, lançou o alarme: “a nossa casa está em chamas”. O presidente Trump prometeu o maior empenhamento dos Estados Unidos nas tarefas de extinção.
Os projectores mediáticos concentraram-se nos incêndios no Brasil, deixando tudo o resto na sombra. Antes de mais, o facto de a destruição não atingir apenas a floresta amazónica (dois terços brasileira), reduzida ao ritmo de dez mil quilómetros quadrados por ano entre 2010 e 2015, mas também as florestas tropicais de África e da Ásia do Sudeste. Em média, as florestas tropicais perdem anualmente mais de 68 mil quilómetros quadrados (três quartos da área de Portugal). Ainda que em condições diferentes de zona para zona, as causas fundamentais são as mesmas: exploração intensiva e destruidora dos recursos naturais em busca do maior lucro possível.
Madeira, minerais e energia
Na Amazónia abatem-se árvores para aproveitar as madeiras preciosas, destinadas à exportação. Estes terrenos, muito frágeis, uma vez degradados são abandonados e trocados por novas zonas para desflorestação. O mesmo método destrutivo é utilizado para explorar as reservas amazónicas de ouro, diamantes, bauxite, zinco, manganês, ferro, petróleo e carvão, actividades que provocam graves danos ambientais. A construção de vastíssimas barragens hidroeléctricas, destinadas a fornecer energia para as actividades industriais, contribui também para a destruição da floresta amazónica.
A exploração intensiva e destruidora da Amazónia é praticada por empresas brasileiras, fundamentalmente controladas – através de participações accionistas, mecanismos financeiros e redes comerciais – pelos grandes grupos multinacionais e financeiros do G7 e de outros países.
A JBS, por exemplo, possui 35 instalações de produção de carnes no Brasil, nas quais são abatidos 80 mil bovinos por dia, e tem sedes importantes nos Estados Unidos, Canadá e Austrália; trata-se de uma empresa largamente controlada, por via das participações de dívida, pelos grandes grupos financeiros credores: JP Morgan (Estados Unidos), Barclays (Reino Unido) e pelas estruturas financeiras da Volkswagen e Daimler (Alemanha).
A Marfrig, que ocupa a segunda posição no ramo, logo a seguir à JBS, é detida a 93% por investidores dos Estados Unidos, França, Itália e outros europeus e norte-americanos.
A Noruega, que actualmente ameaça o Brasil com retorsões económicas devido à destruição da Amazónia, provoca grandes danos ambientais e sanitários na Amazónia através do seu grupo multinacional Hydro (detido a 50% pelo Estado norueguês), que explora reservas de bauxite para a produção de alumínio – ainda que as suas actividades estejam sob investigação no Brasil.
Os governos do G7 e outros, que agora criticam formalmente o presidente brasileiro Jair Bolsonaro para tentarem aliviar a consciência perante as reacções da opinião pública, são os mesmos que favoreceram a sua ascensão ao poder de modo a que as suas multinacionais e os seus grupos financeiros tenham as mãos ainda mais livres para explorarem a Amazónia.
As comunidades indígenas, em cujos territórios se concentram as actividades ilegais de desflorestação, são as mais atacadas. Sob os olhares de Tereza Cristina, ministra da Agricultura de Bolsonaro, cuja família de latifundiários tem uma longa história de ocupação fraudulenta e violenta das terras das comunidades indígenas.