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FRANÇA NÃO QUER A NATO EM GUERRA COM O IRÃO

O novo secretário da Defesa dos Estados Unidos queixando-se dos 130 milhões que custou o drone derrubado pelo Irão

2019-06-27

Pilar Camacho, Bruxelas; com Martha Ladesic, Nova York

A França pronunciou-se contra qualquer eventual intenção norte-americana de arrastar a NATO em novo conflito no Golfo, desta vez contra o Irão, segundo fontes internas da reunião de ministros da Defesa da aliança que decorreu nos dois últimos dias em Bruxelas. A Alemanha, por seu lado, defendeu que o acordo nuclear em vigor com o Irão “deve ser mantido, não comprometido”.

Estas posições foram manifestadas perante o novo secretário norte-americano da Defesa, Mark Esper, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que expressou como sua a ideia de que os Estados Unidos não procuram um conflito com Teerão.

Mark Esper, por seu turno, também afirmou que os Estados Unidos não pretendem uma guerra mas acrescentou que Washington “não tolerará” o derrube de outro drone uma vez que, como disse, são naves de 130 milhões de euros. O drone derrubado encontrava-se no interior do espaço aéreo iraniano, segundo provas em poder da ONU.

Apesar das declarações francesa e alemã, o ambiente dominante na reunião de ministros da Defesa em Bruxelas foi no sentido de países da aliança acompanharem os Estados Unidos se houver acções militares contra o Irão. Fontes da reunião sublinharam que o envolvimento da NATO numa operação desse tipo é um dado praticamente adquirido a partir do momento em que a aliança elevou o nível operacional da missão no Iraque, colocando-o ao nível da existente no Afeganistão. E o reforço do estatuto dessa missão em solo iraquiano teve também a ver, precisamente, com a degradação das relações entre Washington e Teerão.

Nas últimas horas voltou a elevar-se o tom agressivo das declarações em torno da situação, sobretudo a partir do momento em que o presidente norte-americano utilizou a palavra “obliteração” a propósito do Irão, palavra que tem como sinónimos os de “desaparecimento”, “eliminação”, “destruição”. Teerão respondeu que se trata de uma intenção de genocídio, logo de um crime de guerra. Além disso, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Jafad Zarif, advertiu que ameaçar um país com o lançamento de uma guerra é coisa que não cabe na Carta das Nações Unidas; acrescentou que os Estados Unidos já ultrapassaram mesmo esses limites porque “as sanções não são alternativa à guerra, são uma forma de guerra”.

Jafad Zarif alertou ainda os Estados Unidos de que as perspectivas de conduzirem uma “guerra curta, com bombardeamentos “limitados”, não passa de “uma ilusão”.

Acordo violado

Ao mesmo tempo o presidente norte-americano declarou-se pronto a “negociar”, uma intenção que visa, de facto, anular o Acordo Nuclear de Genebra ou 5+1, a que todas as partes estão vinculadas excepto os Estados Unidos - que o assinaram e depois renegaram sem haver qualquer alteração de circunstâncias.

A situação em torno do acordo foi debatida no Conselho de Segurança da ONU, onde os signatários europeus afirmaram que deve ser “mantido e não comprometido”, distanciando-se assim, verbalmente, dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo as partes europeias dirigiram-se ao Irão alegando que não existe “alternativa credível” que não seja a de fazer exactamente o que todos os outros signatários pretendem.

O embaixador iraniano declarou que para o Irão o acordo significou restringir duramente o seu programa energético civil em troca do alívio das sanções impostas à produção e comércio internacional de hidrocarbonetos; no entanto, acrescentou o diplomata, além de não existir qualquer alívio das sanções elas têm vindo a ser constantemente agravadas, apesar de Teerão respeitar a sua parte.

A propósito das recomendações europeias sobre a necessidade de o Irão se sujeitar ao que as outras partes pretendem – deixando as portas abertas para novas exigências – o embaixador iraniano considerou-as desadequadas, uma vez que a Alemanha, França e Reino Unido, três dos signatários, respeitam as exigências norte-americanas de sanções contra o Irão em vez de contribuírem para o seu alívio, como estabelece o acordo.


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