A EUROPA A OBEDECER E A VÊ-LOS MANDAR…

2019-06-22
O clima de guerra desenvolvido pelos Estados Unidos contra o Irão é apenas parte de uma estratégia de controlo global das reservas petrolíferas e dos corredores estratégicos de distribuição, em detrimento de todos os outros interesses e direitos mundiais, incluindo os da União Europeia – que prefere jogar contra si própria acatando pressões e ordens de uma liderança que é nociva para os europeus.
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Enquanto os Estados Unidos desenvolvem uma nova escalada no Médio Oriente, acusando o Irão de atacar petroleiros no Golfo de Omã, o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, encontrou-se em Washington com o secretário de Estado, Mike Pompeo, um dos artífices desta estratégia, assegurando-lhe que “a Itália quer tornar-se o principal parceiro da maior democracia ocidental no continente europeu”. Deste modo, colou a Itália à operação lançada por Washington.
O “incidente no Golfo de Omã”, casus belli contra o Irão, decalca o “incidente do Golfo de Tonquim” de 4 de Agosto de 1964, utilizado como casus belli para bombardear o Vietname do Norte, acusado de ter atacado um torpedeiro norte-americano (acusação que logo a seguir se revelou falsa).
Actualmente, um vídeo difundido por Washington mostra a tripulação de uma presumível vedeta iraniana retirando uma mina que não explodiu do casco de um petroleiro para omitir a sua proveniência (porque a mina teria a inscrição “made in Iran”.
Com estas “provas”, que representam um verdadeiro insulto à inteligência, Washington pretende camuflar o objectivo da operação. Esta relaciona-se com a estratégia para o controlo das reservas de petróleo e gás e dos seus corredores estratégicos. Não é por acaso que na mira dos Estados Unidos estão o Irão e o Iraque, cujas reservas petrolíferas totais ultrapassam as da Arábia Saudita e são cinco vezes superiores às dos Estados Unidos. As reservas iranianas de gás natural são duas vezes e meia superiores às dos Estados Unidos. Pela mesma razão está na mira norte-americana a Venezuela, país que tem as maiores reservas petrolíferas mundiais.
União Europeia, grande prejudicada
O controlo dos corredores energéticos é da máxima importância. Acusando o Irão de pretender “interromper o fluxo de petróleo através do Estreito de Ormuz”, Mike Pompeo anuncia que “os Estados Unidos defenderão a liberdade de navegação”. Por outras palavras, anuncia que os Estados Unidos querem controlar militarmente esta zona-chave para o aprovisionamento energético incluindo da Europa, impedindo sobretudo o trânsito de petróleo iraniano (a que a Itália e os outros países europeus não podem, de qualquer modo, aceder livremente devido às proibições norte-americanas).
Gás natural do Irão teria podido chegar à Europa a baixos preços através de um gasoduto atravessando o Iraque e a Síria. Mas o projecto, lançado em 2011, explodiu em consequência da operação Estados Unidos/NATO para demolir o Estado sírio.
Gás natural russo poderia ter chegado directamente a Itália e ser distribuído, a partir daí, para outros países europeus, através do South Stream passando pelo Mar Negro. Mas o gasoduto, já em fase adiantada, foi bloqueado em 2014 sob pressão dos Estados Unidos e da própria União Europeia, mesmo com enormes prejuízos para Itália.
Foi para o substituir que surgiu o Nord Stream 2, passando a ser a Alemanha o centro de triagem do gás russo. Um gasoduto que os Estados Unidos continuam a combater frontalmente, mesmo em prejuízo das relações com a Alemanha.
A seguir, com base no acordo de “cooperação estratégica Estados Unidos-União Europeia no domínio energético”, estabelecido em Julho de 2018, as exportações norte-americanas de gás natural liquefeito (GNL) para o espaço da União triplicaram. O centro de triagem é a Polónia, de onde o “gás da liberdade” chegará também à Ucrânia.
O objectivo de Washington é estratégico: golpear a Rússia substituindo na Europa o gás russo pelo norte-americano. Mas não existe qualquer garantia, nem de preços nem sobre a duração dos fornecimentos de gás norte-americano, extraído de xistos betuminosos pela técnica de fracking (fractura hidráulica), desastroso para o meio ambiente.
Que dirá sobre tudo isto Matteo Salvini, que à chegada “à maior democracia do mundo ocidental”, declarou orgulhosamente: “faço parte de um governo que na Europa deixou de se contentar com migalhas”?