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UM LIVRO QUE ASSUSTA MACRI

Foto Desacato.Info

2019-05-17

Débora Mabaires, Buenos Aires; Desacato.Info/O Lado Oculto

Enquanto o chefe de gabinete do presidente da Argentina, Mauricio Macri, lança uma desesperada, e ilegal, campanha eleitoral pedindo aos seus militantes políticos para fazerem grupos de Whatsapp e tentarem convencer desconhecidos para que voltem a votar neles, a senadora Cristina Fernández de Kirchner confundiu o governo com uma ação inesperada: publicou um livro. Na Argentina de hoje, isto é um acto revolucionário: a primeira edição esgotou-se antes de ser posta à venda e já é um sucesso editorial.

A ex-presidenta apresentou o livro no próprio centro do poder: a Feira do Livro, que além de ser organizada pelos principais operadores mediáticos do país decorre no espaço da Sociedade Rural Argentina, uma entidade que combateu o povo argentino desde a sua origem.

Sob chuva torrencial, milhares de pessoas amontoaram-se em frente da porta para vê-la passar, mesmo sabendo que não conseguiriam entrar. Os canais de televisão transmitiram as suas palavras em directo. O poder mudou de mãos, embora, institucional e formalmente, Mauricio Macri continue a ser o presidente.

Sinais de nervosismo

O nervosismo que se vinha manifestando nos seus discursos públicos invadiu todo seu gabinete e membros do partido que, sem dissimular, o expressam em voz alta.

O Poder Judiciário, o mais aristocrático e político dos três poderes, já se deu conta e começa a dar sinais de querer recuperar o constitucionalismo perdido.

Nas últimas horas o Supremo Tribunal pediu o processo judicial do caso contra Cristina Kirchner que começará (?) a ser julgado na terça-feira, 21 de Maio. Numa causa em que é acusada de sobrefacturação de uma obra pública, negaram-lhe a apresentação de provas, além de não terem sido realizadas as auditorias contabilísticas necessárias. Sem processo e sem provas não deveria haver julgamento.

Há poucas horas, nos Estados Unidos, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, declarou: “Como patriotas, democratas e amantes da liberdade, gostaríamos que a Argentina não retrocedesse na questão ideológica”. E foi-se estendendo com a incontinência verbal que o caracteriza: “Na Argentina há a possibilidade de voltar a senhora ex-presidente e, em voltando, nós podemos correr o risco de, apesar de a economia deles não estar indo bem e o populismo voltar àquele local, nós termos uma nova Venezuela no sul da América do Sul”. Antes disto, muito singularmente, já tinha afirmado: “Ninguém aqui vai se envolver com questões de fora do nosso país. Mas, como cidadão, tenho a preocupação de que volte o governo anterior ao do Macri… A presidente anterior era ligada a Dilma, Lula, à Venezuela de Maduro e Chávez, a Cuba”.

O chefe de Estado brasileiro disse tudo isto sem corar, enquanto recebia um prémio através do qual a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos o reconheceu como “personalidade do ano”; além disso, reuniu-se com o ex-presidente norte-americano da segunda geração de assassinos, George W. Bush.

Traição às Malvinas

Presidentes títeres de corporações estrangeiras unem-se para impedir a livre vontade dos povos e permitir a espoliação dos países sul-americanos.

Mauricio Macri sonha e faz tudo o que lhe é possível para impedir uma nova chegada de Cristina Fernández de Kirchner à presidência, ao mesmo tempo que entrega três concessões petrolíferas no Mar Argentino, em frente à base militar da NATO, a uma empresa britânica. Desta maneira, outorga territorialidade ao usurpador das Ilhas Malvinas e coloca toda a América Latina em perigo quando cede posições geoestratégicas nas proximidades da passagem bioceânica.

Macri e os seus sustentáculos violam a Constituição nacional e todas as leis que se interponham entre os seus desejos mais primitivos.

O desespero do regime macrista é duplamente perigoso. Sabe que as confusões praticadas e toda a violação da ordem jurídica seriam julgadas no caso de se restabelecer o Estado de Direito na Argentina.

Mauricio Macri está ciente de que já não engana mais ninguém e mostra que está disposto a tudo. Os seus amigos dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional continuam a ajudá-lo e, para isso, também violam suas próprias normas.

O povo argentino continua na expectativa, tentando sobreviver à brutal inflação que engole os salários e aos problemas gerados pelas políticas do governo. A única esperança é que chegue o processo eleitoral para poder votar em alguém que represente os seus interesses e não os das corporações multinacionais.

Ratos abandonam o navio

Alguns operadores do regime estão a perceber a derrocada, têm a noção de que são responsáveis por tudo o que faz as pessoas sofrer e de que estas estão a começar a perder a paciência. Alguns já renunciam aos cargos, outros conseguem bolsas e vão-se embora do país. Há ainda outros que são resgatados pelo poder mediático e trocam de emprego para se mostrarem, de repente, a favor de causas nobres e populares.

Um simples livro conseguiu penetrar nas engrenagens e agora tudo se move, tudo se transforma a cada minuto.

A batalha pela libertação da Argentina apenas começa; e, desta vez, é tudo ou nada


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