O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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TERRORISMO SIONISTA ALIADO AO TERRORISMO ISLÂMICO NA SÍRIA

O primeiro-ministro de Israel inteira-se da saúde de terroristas da al-Qaida em tratamento num hospital israelita

2018-09-21

José Goulão; com Edward Barnes, Damasco
Durante uma denominada “conferência anti-terrorista” que decorreu no início de Setembro em Herzliya, Israel, o ministro sionista da Informação e Transportes, Israel Katz, revelou que o seu país realizou pelo menos 200 operações militares contra a Síria durante os últimos 18 meses, nas quais disparou mais de 800 mísseis e obuses. A declaração equivale a um reconhecimento formal de que Israel integra a coligação internacional agressora contra o vizinho sírio sob a cobertura de uma “guerra civil”.

Não é novidade que o regime israelita está profundamente envolvido na tentativa de fragmentação da Síria e na flagelação do seu povo, procurando concretizar interesses próprios partilhados com a estratégia norte-americana de instaurar “um novo Médio Oriente”. O derrube de um avião russo esta semana, provocado pela acção de caças israelitas, é uma demonstração concreta e indubitável desse comportamento lesivo do direito internacional.
A declaração do ministro Katz, porém, é nova e definitiva quanto ao papel agressor de Israel.
Porém, vão muito para lá destes acontecimentos os factos comprovativos de que o regime sionista dirigido por Netanyahu desenvolve uma guerra contra a Síria, directamente ou por interpostos terroristas – a exemplo do que fazem os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Turquia e alguns Estados fundamentalistas islâmicos do Golfo.
O início do apoio directo de Israel aos terroristas islâmicos infiltrados na Síria pode situar-se em 18 de Março de 2011, dia em dizem ter sido declarada a “primavera árabe” em Deraa, no sul do país, um mito histórico que a propaganda global alimenta já em desespero. Os protestos pretensamente civis realizados nessa ocasião, em torno da mesquita al-Omari, foram enquadrados por oficiais israelitas e terminaram com a ocupação, pelos grupos ditos “de oposição”, precisamente do Centro de Informações utilizado pelo governo de Damasco para monitorizar a actividade militar de Israel nos vizinhos Montes Golã – território sírio ocupado.

75 dólares por cabeça

A publicação norte-americana Foreign Policy revelou, entretanto, que Israel investiu verbas significativas no apoio a milhares de terroristas ditos islâmicos, na realidade mercenários pagos a 75 dólares mensais por cabeça, três quartos da mesada de que auferem os recrutados pelos Estados Unidos da América e as petroditaduras do Golfo.
Além dos pagamentos salariais aos mercenários, a partir de Agosto de 2014 Israel passou a abastecê-los com armas através de três pontos de passagem na linha de demarcação estabelecida internacionalmente. Esta operação desenvolveu-se sob a cobertura de “ajuda humanitária”, um recurso semântico de largo espectro, pois é usado para justificar desde guerras e agressões contra nações soberanas até ao transporte de armas para terroristas em “comboios humanitários” da ONU no interior da Síria, com o conhecimento, pelo menos, do ex-secretário-geral adjunto, o norte-americano Jeffrey Feltman.
Este municiamento israelita teria terminado recentemente, em Julho passado, nos termos de um acordo entre Israel e a Rússia segundo o qual os aliados iranianos da Síria foram deslocados para um perímetro a 80 quilómetros da linha de demarcação. Nada revela, porém, que esse acordo esteja a ser respeitado.
Al-Qaida substitui a ONU
Na mesma altura em que começou a passar armamento para os terroristas ditos islâmicos, em Agosto de 2014, Israel auxiliou os bandos da al-Qaida a ocupar a zona de demarcação, que estava a cargo dos capacetes azuis da ONU. Objectivo: reforçar o fornecimento de material de guerra através da entrega de armas pesadas aos grupos sustentados pela coligação internacional – “moderados” e outros. O Conselho de Segurança não se ocupou, em termos deliberativos, desta humilhação ostensiva das chamadas “forças de paz” da organização.
Não pode dizer-se, contudo, que este conjunto de apoios do fundamentalismo sionista aos criminosos do fundamentalismo islâmico não tivesse uma componente “humanitária”. Mais de três mil mercenários da al-Qaida e familiares receberam cuidados clínicos no Centro Médico de Ziv, em Israel, onde alguns chegaram a receber visitas do próprio chefe do governo israelita, Benjamin Netanyahu.
Os terroristas feridos em combate eram recolhidos primeiramente em hospitais de campanha montados pelo exército israelita nos Montes Golã e transportados, então, em helicópteros militares para o centro médico no interior do país.

Descontentamento e ingratidão

Na conferência “anti-terrorista” de Herzliya, e em outras ocasiões, Israel pretende associar a sua intervenção directa na guerra contra a Síria à alegada necessidade de combater os guardas da revolução iranianos presentes no terreno, como aliados do governo de Damasco.
A realidade observada no terreno poderá confirmar parcialmente esse argumento, mas revela muito mais sobre o teor global da intervenção sionista. Tornou-se evidente, ao longo dos anos de guerra, que se realizam operações de grupos terroristas coordenadas com os serviços do exército de Israel: as actividades dos mercenários recebem, nesses casos, cobertura aérea israelita, proporcionada, sobretudo, a partir dos espaços aéreo libanês ou internacional. No entanto, os dedos das duas mãos não chegam para contar o número de vezes que os caças israelitas violaram e violam o espaço aéreo sírio.
O apoio israelita criou a convicção, entre os grupos mercenários, de que a protecção iria continuar durante a contra-ofensiva de Damasco que conduziu à libertação de importantes regiões do território sírio como Alepo, os arredores de Damasco, Hama, Deraa – até à presente chegada às portas do derradeiro grande bastião da al-Qaida, Idleb.
No entanto, isso não aconteceu, o que tem provocado, entre os terroristas, um sentimento de “traição” em relação a Israel. A publicação Foreign Policy dá conta disso através de testemunhos anónimos de membros dos bandos agressores e também de queixas por eles formuladas segundo as quais a ajuda financeira e militar sionista terá sido “insuficiente”. Ou, pelo menos, interior à prestada por países como os Estados Unidos, Turquia, Qatar e Arábia Saudita.
Trata-se de sentimentos e sensações que manifestam uma evidente ingratidão dos mercenários ditos islâmicos para com os seus protectores terroristas sionistas, por seu lado conhecedores das limitações dos infiltrados logo que começaram a sofrer derrotas.
Uma certeza parece assegurada ao avaliar os resultados de todos estes acontecimentos relacionados com a Síria: não existe qualquer “levantamento popular” ou uma “oposição armada” genuinamente síria. O que está realmente no terreno são grupos de mercenários sustentados por uma ampla coligação internacional cujos membros, salvo os casos dos Estados Unidos, Israel e de forças especiais francesas e britânicas, evitaram – pelo menos até agora – envolver directamente os seus aparelhos militares.


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