O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

O Lado Oculto é uma publicação livre e independente. As opiniões manifestadas pelos colaboradores não vinculam os membros do Colectivo Redactorial, entidade que define a linha informativa.

Assinar

O ROUBO DO OURO DA VENEZUELA E OUTRAS HISTÓRIAS

Sem palavras

2019-02-08

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

Na altura dos atentados de 11 de Setembro, o secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, e o seu conselheiro Arthur Cebrowski definiram a necessidade de o Pentágono dominar completamente o campo de batalha mundial (Full-spectrum dominance) de maneira a manter a unipolaridade do mundo. É exactamente o que os Estados Unidos tentam fazer agora.

Há duas semanas, Washington coroou Juan Guaidó como presidente da Venezuela, apesar de este não ter participado em eleições presidenciais, e declarou a ilegitimidade do presidente Maduro, legalmente eleito, anunciando desde já a sua deportação para Guantánamo.
Há pouco mais de uma semana, Washington anunciou a suspensão do Tratado INF, atribuindo a responsabilidade à Rússia, e abriu assim uma fase ainda mais perigosa da corrida aos armamentos nucleares.
Esta semana, Washington deu mais um passo: no dia 6, a NATO, sob comando norte-americano, ampliou-se de novo com a assinatura do protocolo de adesão da Macedónia do Norte como 30º Estado membro.
Não sabemos o que fará Washington na próxima semana, mas conhecemos a direcção: uma sucessão cada vez mais rápida de actos de força através dos quais os Estados Unidos e outras potências ocidentais procuram garantir o predomínio unipolar num mundo em vias de se tornar multipolar.

Assalto às riquezas da Venezuela

Esta estratégia – não uma manifestação de força, mas de fraqueza, contudo não menos perigosa – viola as mais elementares regras do direito internacional. O caso emblemático é a adopção de novas sanções contra a Venezuela, através do “congelamento” de activos no valor de sete mil milhões de dólares pertencentes à empresa petrolífera do Estado, com o objectivo declarado de impedir a Venezuela, país que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo, de exportar o seu petróleo.
Além disso, a Venezuela é um dos sete países do mundo que possui reservas de coltan*, é rico também em ouro, cujas reservas estão calculadas em 15 mil toneladas, utilizado pelo Estado para comprar divisas fortes, abastecer-se de medicamentos, produtos alimentares e outros géneros de primeira necessidade. Por isso, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, em conjugação com os ministros das Finanças e os governadores dos bancos centrais da União Europeia e do Japão, desenvolveu uma operação secreta “de expropriação internacional” (documentada pelo diário Il Sole 24 Ore). Sequestrou 31 toneladas de lingotes de ouro pertencentes ao Estado venezuelano: 14 toneladas depositadas à guarda do Banco de Inglaterra e mais 17 transferidas para este banco pelo alemão Deutsche Bank, que as tinha em seu poder como garantia de um empréstimo, totalmente reembolsado pela Venezuela em divisas fortes. Uma autêntica rapina, do género da que em 2011 conduziu ao “congelamento” de 150 mil milhões de dólares de fundos soberanos líbios (grande parte dos quais entretanto desaparecidos): com a diferença de que o roubo do ouro venezuelano foi realizado secretamente.
O objectivo é o mesmo: estrangular economicamente o Estado-alvo para acelerar o seu colapso, fomentando a oposição interna e, se não for suficiente, atacando-o militarmente do exterior.
Com o mesmo desprezo pelas mais elementares normas de conduta nas relações internacionais, os Estados Unidos e os seus aliados acusam a Rússia de violar o Tratado INF sem apresentar qualquer prova, enquanto ignoram fotos divulgadas por Moscovo e obtidas por satélite: demonstram que os Estados Unidos começaram a preparar a produção de mísseis nucleares proibidos pelo Tratado em instalações da Raytheon, o que aconteceu dois anos antes de acusarem a Rússia de violar o Tratado.
Finalmente, quanto ao próximo alargamento da NATO, que já foi assinado, recordemos que, em vésperas da dissolução do Tratado de Varsóvia, o secretário de Estado norte-americano, James Baker, assegurou ao presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, que “A NATO não crescerá um centímetro para Leste”. Em 20 anos, depois de ter destruído a Federação Jugoslava pela guerra, a NATO cresceu de 16 para 30 Estados, estendendo-se cada vez mais para Leste, em direcção à Rússia.

*Minério de dois minerais, columbita e tantalita (col+tan) que tem uma enorme procura recente devido à utilização em smartphones e outros produtos de electrónica


fechar
goto top