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PENTÁGONO RESGATA TERRORISTAS DO DAESH

Tanto aparato das tropas do Pentágono também é usado para dar fuga aos terroristas, em vez de servir para os combater

2019-01-31

Edward Barnes, Cabul

Forças militares norte-americanas de ocupação do Afeganistão efectuaram em meados de Janeiro uma operação secreta na aldeia de Panjboz, na região noroeste do país, para libertarem proeminentes membros do Daesh, ou Estado Islâmico, que estavam detidos numa prisão gerida pelos Talibã.

Segundo Abdullah Afzali, presidente adjunto do Conselho Provincial de Badghis, onde se situa a aldeia de Panjboz, cerca de 40 membros seniores do Daesh, todos eles estrangeiros, fugiram da cadeia depois de aviões norte-americanos terem bombardeado as instalações enquanto helicópteros desembarcavam tropas que liquidaram a guarnição. Os terroristas assim libertados foram então recolhidos em helicópteros e transportados para local não determinado.
A operação decorreu em 13 de Janeiro e foi antecedida de pormenorizada preparação por parte dos comandos norte-americanos, realizada a partir de dados recolhidos por um comandante do Daesh, Aminullah, de nacionalidade uzbeque, que fugira da mesma cadeia alguns dias antes. O êxito da fuga leva a crer que Aminullah contou com a cumplicidade de um guarda, que entretanto foi afastado da guarnição e punido pelos Talibã.

Fuga de um informador

O fugitivo é um destacado comandante do Daesh nas regiões noroeste do Afeganistão, que têm sido um dos destinos dos terroristas evacuados da Síria, depois da queda de Raqqa, em operações montadas pela CIA. Estava detido pelos Talibã por ser um comprovado informador norte-americano que terá contribuído para algumas operações das tropas da NATO nas regiões norte do Afeganistão.
Segundo o testemunho de fontes da região, Aminulla entrou em contacto com as forças norte-americanas pouco depois da fuga, abastecendo-as com as informações sobre o local e os efectivos da guarnição
Na posse destes dados, as forças norte-americanas começaram por utilizar aviões para bombardear as zonas em redor da prisão e neutralizarar os grupos talibãs que se encontravam nas imediações; a seguir avançaram com os helicópteros para desembarcar tropas, que liquidaram a guarnição e resgataram os terroristas.
A prisão situa-se em regiões montanhosas e inacessíveis por estrada. Além disso, trata-se de uma das vastas zonas do Afeganistão sob controlo dos Talibã. O conjunto das condições, exposto pelo informador fugitivo, terá determinado que a operação fosse realizada por tropas aerotransportadas.

A cumplicidade com o Daesh é a norma

O resgate norte-americano de terroristas de uma organização que, oficialmente, os Estados Unidos dizem combater não foi um caso fortuito, nem gerado pelas circunstâncias proporcionadas pela evasão conjuntural de um detido.
Ainda antes da fuga de Aminullah já os serviços de espionagem norte-americanos tinham montado operações de localização da prisão, mas sem êxito porque os Talibã neutralizaram as tentativas.
Existem outros exemplos de cumplicidade entre tropas norte-americanas e da NATO com contingentes do Estado Islâmico, designadamente nas zonas setentrionais afegãs.
Em diversas ocasiões, forças norte-americanas interferem bombardeando as posições talibãs quando estas se confrontam com grupos do Daesh, e não são raros os casos em que acabam por proceder ao resgate dos terroristas em dificuldades.
Foi nessas condições que aconteceu o salvamento de um importante dirigente regional do Estado Islâmico, Mullah Nangivali, transportado de helicóptero para uma das bases militares que o Pentágono ocupa no Afeganistão.
Na prática, os contingentes do Daesh reforçados com os mercenários transportados da Síria têm funcionado como mais um braço armado das trocas de ocupação no combate aos Talibã; os quais, apesar disso, continuam a ganhar terreno e controlam efectivamente mais de 60% do território afegão ao cabo de 18 anos de guerra, como é reconhecido por fontes independentes e até norte-americanas.

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