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MILITARES NAZIS CONSPIRAM NA ALEMANHA

Nas forças de elite do exército alemão (KSK), um dos mais poderosos corpos da NATO, foi alvo de infiltrações de centenas de nazis numa conspiração não desmantelada

2018-11-23

Lourdes Hubermann, Berlim; com Norman Wycomb, Londres

A polícia criminal alemã desmontou uma conspiração na qual duas centenas de soldados de extrema-direita pertencentes ao corpo de forças especiais de elite do exército (KSK) planeavam assassinar membros do governo e criar um ambiente de desestabilização generalizada. Os alvos, identificados como sendo favoráveis a concessões de asilo a estrangeiros, seriam a presidenta dos Verdes, Claudia Roth, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, e o ex-chefe de Estado Joachim Gauck.

Segundo os pormenores apurados pela polícia, os conspiradores pretendiam multiplicar células neonazis no interior das Forças Armadas, de modo a criar condições para tirar proveito político-militar do processo de caos e falência da lei e da ordem que deveria corresponder a um designado “Dia X”.
Apesar de detectada a conspiração, os envolvidos não foram detidos porque um dos contactados pela polícia criminal durante a investigação foi um tenente-coronel dos serviços secretos militares que, entretanto, avisou os conspiradores.
A profundidade da infiltração nazi nas forças armadas, exemplificada por este caso, está a criar algum alarme nas instituições alemãs, tanto mais que o ingresso na carreira militar está sujeito a condições que deveriam ser rigorosas. Alguns candidatos chegam mesmo a ser rejeitados no próprio dia do recrutamento.
A investigação apurou também que os envolvidos estavam convictos de que o processo de desencadeamento da acção estaria iminente. Armas, munições e combustível foram armazenados secretamente, actividade paralela à criação de campos de treino em regiões fronteiriças com a Itália e a Suíça.

Já houve antecedentes

O episódio já não é o primeiro do género. No ano passado foram detectadas recordações da Wehrmacht e simbologia dos tempos hitlerianos no interior de quartéis alemães.
A imprensa alemã, designadamente a revista Focus, revelou recentemente a existência de uma organização paramilitar clandestina, “Cidadãos do Reich”, com 16 mil membros e cujos planos de acção incluem igualmente a preparação de um “Dia X” com a participação de grupos de membros das forças armadas.
O recrudescimento neonazi não é um segredo na Alemanha, onde as movimentações clandestinas coexistem com operações violentas desencadeadas sobretudo contra imigrantes, como aconteceu ainda em recentemente em Chemnitz, na Alemanha Oriental.
Estas movimentações têm um braço político, a Alternativa para a Alemanha, que cresce em número de votos em cada consulta eleitoral realizada no país e que, segundo as sondagens, está entre os 15 e os 20% à escala nacional. Embora inserido no “espectro democrático” e raramente seja qualificado como nazi, o partido apenas afasta membros claramente identificados com esta tendência quando são claramente desmascarados perante a opinião pública.

Militarização crescente

O arrastamento da crise económica através de todo o continente europeu e o correspondente reforço das organizações de extrema-direita reflectem-se na multiplicação de acontecimentos demonstrando a crescente militarização de grupos fascistas.
A União Europeia, sendo conivente com a situação criada na Ucrânia, onde um movimento político, paramilitar e militar como o Batalhão Azov condiciona absolutamente a forma de governar o país, também não está muito empenhada em analisar e combater a situação. A Europol, por seu turno, diz-se preocupada com o aparecimento de situações de “violência de esquerda” sobretudo em Espanha, Grécia e Itália, país onde o governo é neofascista.
Em vários países da Europa Central e Oriental, a influência crescente de partidos e movimentos nacionalistas, populistas e fascistas é acompanhada pelo aparecimento de milícias e unidades paramilitares fortemente armadas, como acontece na República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Hungria, havendo sinais igualmente na Polónia.
Entretanto, de acordo com notícias que vão surgindo pontualmente na comunicação social, os serviços de segurança franceses prenderam membros de um grupo de extrema-direita que pretendia atacar o presidente Macron; no Reino Unido, desde o aparecimento do grupo Acção Nacional, em 2014, outros se seguiram, como o Generation Identity. Em comum têm o ódio activo contra os imigrantes, sintonizado com a preparação de uma “guerra contra o Islão”.
Recorda-se que vários soldados do exército britânico surgiram envolvidos no atentado terrorista de 2017 cuja autoria foi atribuída ao grupo Acção Nacional. As investigações provaram que existia pelo menos um elo de ligação deste grupo às forças armadas. “Os nazis britânicos estão em ascensão, cada vez mais organizados e violentos”, testemunhou a publicação online The Intercept.
Existe, em toda a Europa, uma equação perfeita para que esta situação não tenha travão e continue a agravar-se: a crise económica e social provoca a multiplicação e o reforço das tendências fascistas; que continuarão a desenvolver-se, uma vez que os governos têm sido incapazes de atacar a crise porque não têm qualquer intenção de remover as suas causas.

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