O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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ÍNDIA E RÚSSIA CRIAM ALTERNATIVA AO SUEZ

O INSTC a vermelho e a rota habitual entre a Índia e a Europa a azul

2018-11-09

Castro Gomez, Moscovo

Corredor de Transporte Norte-Sul (INSTC, na sigla anglo-saxónica) é o projecto de transportes entre a Índia e a Europa que os governos de Moscovo e Nova Deli estão a ultimar e que funcionará como uma alternativa mais curta e mais barata ao Canal de Suez. A China integrará esta nova rota na sua expansão comercial entre o Oriente e o Ocidente.

A nova rota permitirá, segundo dados tornados públicos pelos dois governos, o transporte de petróleo e outros bens entre a Índia e a Europa – neste caso com entreposto em São Petersburgo – com uma redução de custos da ordem dos 40%. Cobrindo uma distância de 7200 quilómetros (a vermelho no mapa), o troço terá sectores terrestres e marítimos e reduzirá em 20 dias a deslocação entre Mumbai (Bombaim) e Moscovo, com passagem pelo Irão. A capacidade anual de transporte está avaliada em cerca de 30 milhões de toneladas.
A passagem através do Golfo Árabe-Pérsico e pelo Irão é a rota que menos tempo consome, além de ter o benefício adicional de abrir às empresas indianas de logística um novo percurso para o Afeganistão evitando o Paquistão, uma vez que as tensões devido à questão de Caxemira estão longe de resolvidas. A Índia já dotou uma verba de 500 milhões de dólares para a modernização do porto iraniano de Chabahar, que interligará o INSTC com a rota destinada ao Afeganistão.
A China manifestou o interesse em tirar partido desta nova rota na sua rede de ligações ao Ocidente e a África, desenvolvida no âmbito na iniciativa “Uma cintura, uma estrada”.
“Depois de finalizado o acordo, o objectivo será tornar a nova rota operacional o mais depressa possível, porque estamos em condições de resolver todos os problemas com ela relacionados”, declarou o ministro indiano do Comércio, Suresh Prabhu.

Alternativas ao império

A Rússia e a Índia têm vindo a reforçar a cooperação económica bilateral nos últimos anos, sobretudo depois do estabelecimento do movimento BRICS – Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul. A iniciativa, no âmbito de um novo multilateralismo, vem inquietando a corrente globalista da ordem internacional, que procura travá-la antes que atinja maior dinamismo no quadro da concorrência económica. A operação de mudança de regime no Brasil através do golpe e das recentes eleições presidenciais, conduzida pelos Estados Unidos, deverá ser interpretada também nesse contexto.
Em Outubro, Moscovo e Nova Deli consumaram um importante acordo de cooperação militar no valor de seis mil milhões de dólares e que tem como transacção de destaque a venda de sistemas de mísseis defensivo S-400 russos à Índia. Este país decidiu concretizar a operação apesar de os Estados Unidos ameaçarem impor-lhe sanções económicas.
O Irão tem igualmente um papel relevante nestas evoluções registadas ao nível das notas rotas comerciais traçadas a partir de acordos bilaterais e multilaterais e que são alternativas às que estão sob controlo anglo-saxónico e dos países que dele dependem. O INSTC e os acordos de cooperação que vão sendo assinados contornando a influência norte-americana sobre o comércio global tornam-se ainda mais relevantes depois de terem entrado em vigor, em 4 de Novembro, as novas sanções económicas de Trump contra Teerão.
O comércio internacional em rublos, yuans e rupias não adquiriu ainda um peso relevante, mas tem vindo a crescer com a multiplicação de acordos bilaterais ameaçadores do domínio do dólar.
Passo-a-passo, países de grandes dimensões e peso económico relevante têm vindo a contornar a ligação ao dólar e ao Departamento do Tesouro norte-americano favorecendo trocas noutras moedas, comprando ouro – uma tendência crescente – e libertando-se de títulos da dívida externa dos Estados Unidos.


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